“Próximo às águas contaminadas, se vende o peixe que chega até nossa mesa”. A frase do especialista e pesquisador ambiental, Valter Calheiros, foi o pontapé para a discussão realizada, na manhã desta segunda-feira (21), durante o simpósio “Igarapés de Manaus e Saneamento: Cenários e Perspectivas”, idealizado pelo Ministério Público de Contas (MPC-AM) e realizado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-AM) via Escola de Contas Públicas (ECP). Com participação de especialistas, agentes públicos e da população, o encontro apresentou relatórios e alternativas para a falta de saneamento básico, em Manaus.
Coordenado pela ECP e pela Coordenadoria de Saúde e Meio Ambiente do MPC, o evento é voltado para o diálogo interinstitucional entre os serviços e órgãos instituídos pelo Estado para controle e manutenção da área ambiental. Estudantes universitários poderão solicitar a emissão de certificado com oito horas complementares. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas clicando aqui.
“Nem sempre o poder público é suficiente, por isso a população precisa tomar a frente do tema e avançar com estratégias que previnam a degradação dos igarapés”, disse o procurador do MPC, Ruy Marcelo Alencar de Mendonça ao ressaltar o incentivo do conselheiro-presidente Ari Moutinho Júnior, da vice-presidente Yara Lins dos Santos e do coordenador-geral da Escola de Contas, conselheiro Josué Filho, para a realização do evento.
Primeiro Dia
No encontro, o professor Valter Calheiros também apresentou imagens do levantamento realizado em uma pesquisa de campo nos igarapés de Educandos e São Raimundo, comparando diferentes períodos. “Em nossas campanhas, encontramos todo tipo de material, de geladeiras a sofás. Ainda resiste vida animal, mas é alarmante o que fizemos com alguns habitats. Alguns igarapés estão no meio da cidade e recolhemos bolsas de lixo com lenço no nariz devido o forte odor”, relatou.
Também esteve no primeiro dia de simpósio o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Sérgio Bringel, que apresentou dados sobre o alto índice de contaminação por coliformes fecais (bactérias chegam até a água por meio de despejo do esgoto) na região da Orla da Manaus Moderna, no Centro, e a presença de espuma branca na água, que indica contaminação química. “Se você encontrar um corpo hídrico sem contaminação, está de parabéns. Pessoas estão morrendo com doenças de terceiro mundo, por falta de saneamento básico”, disse o pesquisador.
As professoras e doutoras, Ana Paula Costa e Adoréa Cunha, coordenadora do Mestrado Ambiental e do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), respectivamente, trouxeram à tona a temática dos resíduos sólidos, materiais sólidos descartados pelos humanos. Com várias reflexões sobre a relação politica no assunto, as especialistas ressaltaram a preservação ambiental definida na legislação brasileira.
“Economicamente, é mais eficaz prevenir que reparar. As metas desse setor comemoraram aniversários, 10, 20 anos, mas os objetivos nunca são alcançados. Não há explicação para, por exemplo, a falta de água tratada em Manaus, cidade rodeada de recursos hídricos”, disse Ana Paula Costa.
Entre os demais temas ministrados, estão a realização de parcerias para alcançar objetivos na área e a priorização da educação para conscientizar crianças e jovens sobre o meio ambiente. O professor, jornalista e presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica de Tarumã-Açu, Antonio Miranda, destacou a relação de doenças e meio ambiente e a necessidade da realização de projetos em longo prazo. “Se tratássemos a água, não teríamos SPAs lotados. Falta educação por parte dos gestores públicos e da população, mas esta última está disposta a ajudar, basta dar continuidade”, disse.
Nesta terça-feira (22/08), último dia de simpósio, a programação contará com a presença do presidente da Unidade Gestora de Projetos Especiais do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (UGPE/Prosamim), Marcellus Campelo, e do secretário estadual de meio e sustentabilidade, Ademir Stroski, com foco nas discussões para perspectiva para os próximos 20 anos.
No total, o seminário contará com dez palestras, cada uma com meia hora de duração e contará com exposições de especialistas, agentes públicos, acadêmicos e conhecedores da problemática. No fim de cada palestra, é destinado um tempo para perguntas dos participantes.
Assessoria de comunicação do TCE-AM.
Foto (Destaque): Patrícia Cabral/CMM.
Foto (corpo do texto): Ana Cláudia Jatahy/TCE-AM